Há alguns anos era no mercado que se media o pulso a uma cidade.
Se assim fosse, hoje em dia poucas seriam as cidades pulsantes, já que actualmente quase todos os mercados espalhados pelo país são locais assépticos e bem cuidados, mas situados em espaços fechados, carentes de cor e vida. Mas, nas Caldas da Rainha o mercado é à antiga... Situado na Praça da República, ao ar livre, é um verdadeiro hino às cores, aos cheiros, aos sentidos.
A caravana do pão e dos bolos, que parece saída de um filme; os doces, os suspiros, as ferraduras, os beijinhos e as famosas cavacas das Caldas; as nozes, as tâmaras, os figos, o figo-moscatel, as castanhas gigantes, a abóbora cor de abóbora, a alface com cor de verdadeira alface, os tomates, o pepino, uma extensíssima variedade de fruta, de legumes, e ainda... galinhas e coelhos. Vivos, é claro. Há de tudo. E o que não é vivo, é fresco.
Normal para quem cá está, surpreendente para quem cá passa.
Espelho de água no Parque D. Carlos, nas Caldas da Rainha, local de passagem obrigatória na cidade.
O mesmo sucede em relação à cerâmica. É um lugar comum, mas torna-se incontornável que a atenção dos visitantes não se centre nesta arte de moldar o barro e o vidro. Apenas uma entre muitas e surpreendentes peças, essencialmente para quem não conhece em profundidade o seu trabalho. Há muitos desenhos originais e inúmeras obras de vidro repletas de cor, desde pratos e jarros decorados com frutos, lagartos, sapos (seguindo a tradição naturalista), gatos, e muitas peças com crítica de cariz político e social.
A Nazaré, vista a partir do Sítio.
A cidade é pequena e está tudo reunido, por isso basta atravessar a rua para entrar no Parque D. Carlos, um agradável jardim com um lago e alguns cisnes, que vive paredes-meias com a unidade termal das Caldas da Rainha, mandada construir pela Rainha D. Leonor devido à qualidade das suas águas sulfurosas, ainda hoje muito apreciadas. Também ali ao lado, na pastelaria Machado, a mais conhecida da cidade, pode enganar-se a fome com uma cavaca, mas na hora da refeição o melhor é seguir em direcção à freguesia de Guisado para desfrutar da qualidade do restaurante Solar dos Amigos, um verdadeiro descobrimento.
Um descobrimento que, ainda assim, não é um segredo, pois para comer ao fim-de-semana convém marcar com uma semana de antecedência. E não é difícil perceber o porquê... Com uma decoração tradicional, mas extraordinariamente cuidada – repleta de madeira, e pés de alho, cebolas e espigas de milho presas no tecto –, oferece uma cozinha regional excepcional, graças à qual comer nunca será uma moda, mas sim sempre um verdadeiro prazer.
Às vezes esquecemo-nos, mas estamos muito perto do mar, por isso, e mesmo apesar de a época balnear já estar longe, parar para observar o Atlântico é sempre um bálsamo para qualquer corpo. À escolha estão locais como a Nazaré, o Sítio, ou a Foz do Arelho, praia que devido a estar acoplada à Lagoa de Óbidos é dona e senhora de uma beldade que se guarda durante todo o ano.
Para que o passeio seja completo, depois da praia, vem a montanha, nomeadamente a Serra de Montejunto. Não é das maiores de Portugal, nem possui a beleza de outras, mas merece ser descoberta. O seu cimo, repleto de pedra e quase sem flora, tem qualquer coisa de paisagem lunar, sendo que a visão de infinitas antenas de comunicação, das rádios e televisões portuguesas, lhe empresta uma brisa algo surrealista. Para terminar em beleza sugerimos uma visita pelo mundo dos vinhos.
É que esta é uma região vinícola que se vem afirmando cada vez mais no panorama nacional. Terminadas as vindimas ficam as quintas, como a do Sanguinhal, Cerejeiras ou de Loridos (adquirida por Joe Berardo, que aí está a construir o seu megalómano jardim oriental).
Por isso, enquanto não chegam os Budas gigantes, pode continuar a fazer hossanas a Baco, já que qualquer das quintas oferece provas de vinhos.
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